Por: Kako Esquife
Márcio era um sujeito bem-apessoado, com cabelos bem cortados, barba escanhoada e roupas com caimento perfeito ao corpo. Ele gostava de passar as manhãs de sábado lendo jornal e comentando as notícias com Judith, sua esposa loira, alta e com um belo corpo, esculpido na academia. Mesmo depois de ter parido a pequena Joyce, ela continuava malhando e nunca havia perdido a forma.
Joyce era uma adolescente magra, com a autoestima abalada pelo bullying dos colegas, que insistiam em chamá-la de fio desencapado, pela finura do corpo e abundância de cabelos. Ao menos, ela era feliz em casa, onde ganhava amor e carinho dos pais, além de ser um bocado mimada por eles, pois ambos eram cheios de dinheiro e compravam tudo que ela pedia.
As festas na casa dos Richmann eram sempre regadas a todo tipo de bebidas caras e comidas elaboradas por chefs renomados. Sempre havia muita gente famosa, desde músicos até políticos, e a pequena Joyce tirava fotos com eles e postava em suas redes socias, que tinham muitos seguidores. Até mesmo seus colegas a seguiam e pediam pra que ela os convidasse para as festas. Porém, ela nunca convidou ninguém do colégio, pois sabia que amigos são poucos e interesseiros são muitos.
A festa que estava acontecendo agora era a mais colorida de todas, e os convidados eram muitos. Diversos atores e músicos estavam lá. Joyce estava se divertindo como nunca, tirando mil fotos e dançando com alguns garotos. Ela estava feliz, sentindo-se a rainha do evento.
– Essa menina sempre dança sozinha assim?
– Só quando é “dia de festa”. Pobrezinha, foi largada aqui no hospital com meses de idade. Desenvolveu esquizofrenia ilusória avançada. Ninguém sabe quem são os pais. Pode largar o prato no buraco da porta. Quando a festa termina, ela sente fome.
